A maior e mais antiga ultramaratona realizada na África do Sul, a “Comrades Marathon” (www.comrades.com), em junho deste ano, contou com a participação de 19.062 atletas do mundo todo, sendo 237 brasileiros.
Na categoria de 50 a 59 anos, o itatibense Luis Henrique Rampasso, 50 anos, ganhou como melhor tempo de prova em 31º lugar, largando da cidade de Pietermaritzburg, na Província de KwaZulu-Natal, às 5hs30 da manhã, em uma temperatura de 5º e já emocionado com a recepção do Hino Nacional da África do Sul, “Shosholoza “(canção Nguni muito popular entre o povo daquele País, cantada pelas tribos mistas de mineração de ouro na África do Sul) e “Chariots of Fire” (Tema do filme “Carruagens de Fogo”, música presente nas Olimpíadas).
Vestindo suas roupas de sorte carinhosamente chamadas por “trapinhos”, este empresário de hábitos simples, que nos recebeu em sua casa enquanto escutava um LP do Bee Gees e pontualmente jantava queijo e vinho, tímido e franzino de 55 quilos e com uma força de gigante, percorreu longos 91 km ao lado de um grupo de 5 brasileiros em tempo recorde.
Segundo Rampasso esta maratona foi a mais emocionante de sua vida e o orgulho de ser Brasileiro só aumentou. Um dia antes da competição o itatibense visitou um orfanato de condições muito humildes – inclusive as crianças têm problemas de saúde- e foi recepcionado por um garoto que usava o boné do Brasil que tocou o coração do atleta.
No dia da corrida muitas surpresas o esperavam no meio do percurso. No Km 39 passou pelo mesmo orfanato que visitara no dia anterior e desta vez todos os alunos foram para o lado da pista e cumprimentaram com um toque de mão demonstrando todo apoio e fortalecendo ainda mais o que estava por vir: “Logo em seguida nos deparamos com a escola mais rica daquela região e os alunos também nos cumprimentaram, existe um choque de realidade muito grande. Uma passagem que me recordo também foi entre os kms 66 e 82 quando corri ao lado de uma africana e ela não aguentou seguir adiante”, comenta.
Mas foi na sua chegada, na cidade de Durban, dentro de um “funil” no estádio “Moses Mabhida” que Rampasso sentiu a maior emoção de sua vida quando entrou abraçado com a bandeira do Brasil e foi aplaudido por milhares de pessoas que aguardavam os atletas.
A história da força de vontade de Rampasso começa quando ainda era criança, aos 8 anos na Associação Itatibense de Atletismo. Seu maior treino era correr pela cidade entregando jornal nas residências de madrugada.
Filho de uma dona de casa e de um agricultor e marceneiro, Rampasso ‘pegou no pesado’ desde cedo ajudando seus pais na roça, vendendo uva e caqui.
Aos 17 anos, em 1985, uma virada aconteceu em sua vida quando concluiu o curso de eletricista instalador no Senai. De lá para cá nunca mais parou.
É casado há mais de três décadas com a empresária Laura, seu braço direito e a responsável por fazer o atleta voltar ao esporte no ano de 2006 em uma corrida de 5 km no Parque Taquaral. Pai de 2 filhos adultos, tem 4 cachorros (Nick, Sophie, Kira, Puka) que são as alegrias da casa. Sua maior inspiração é o irmão José Ronaldo, 53 anos, que correram juntos na São Silvestre (15 km) ,na Meia Maratona de São Paulo (21 km) e guarda um carinho especial pela primeira maratona (42 km) de Porto Alegre que ambos participaram.
Sua primeira corrida internacional foi a Meia Maratona De Buenos Aires, posteriormente indo para Santiago realizando a Meia Maratona e no ano seguinte a Maratona (42 km – 194 metros). Rampasso perdeu a conta de quantas provas participou pois em sua última contagem foram 450 medalhas (exceto os troféus).
A ideia de participar da “Comrades Marathon” surgiu pelo também atleta itatibense Marcos Roberto Ramos que convidou Rampasso. Seu treinamento de 6 meses foi “insano”: “Contratei uma treinadora muito experiente do Triathlon, a Vanessa Gianini de Campinas, e o “Comradeiro” Leandro , que é brasileiro, chegamos a fazer 3 treinos de 60 km na Estrada Velha de Santos, fora os treinos em Itatiba de 45 km a 48 km diariamente. Levantava às 3h30 da manhã e no Parque da Juventude treinava Fartlek (para resistência), tiro e longa distância”, comenta.
Rampasso levou do Brasil mantimentos para ajudar as crianças da África: “O que mais me identifico nessas corridas é com o meu passado, é isso que me traz força. Às vezes estou me enfraquecendo nas provas e passa um filme na minha cabeça. Aprendi na “Comrades” que a simplicidade, vontade, luta, verdadeira amizade, respeito e dignidade elevam o ser humano. Foi a maior lição da minha vida, trouxe mil lembranças boas para o Brasil”, finaliza
A próxima prova que Rampasso compete é a Maratona de Curitiba no dia 18/11, no dia 09/12 disputa em São Paulo a 52º Sargento Gonzaguinha, que é uma prévia da São Silvestre, e no dia 31/12 participa da Corrida de São Silvestre de São José dos Campos, no Vale do Paraíba, encerrando suas competições neste ano de 2018, um dos mais , senão o mais importante de sua vida!
Confira a música que fez parte da Comrads Marathon: www.youtube.com/watch?v=2aFlQS4k3wo
(Tradução “Seguindo Adiante” – Shosholoza)
Reportagem: Daniele Marzano
