Especial Cinema – O que fiz nas férias? Por Ana Lúcia Polessi

Eu sou uma pessoa do século passado. Peguei ainda aquela época de lousa preta, fixa na parede da sala de aula. Naqueles tempos, a professora pedia, no começo de cada ano, para escrevermos um texto – uma composição – dizendo o que fizemos nas férias.

Ah se eu fosse escrever uma redação dessas neste começo de ano…. eu podia escrever que fui picada por uma aranha radiativa e que ganhei estranhos poderes, que fui parar em Nova York e lutei contra o rei do crime, e de quebra conheci um monte de heróis que vivem nos vários universos que convivem com o nosso para além do tempo e espaço.

Que delícia que é “O Homem-Aranha no Aranhaverso”!! É uma tremenda animação, que brinca com o universo dos quadrinhos, dos animes, dos desenhos animados. O Homem-Aranha mostra por que continua sendo um dos personagens mais queridos e emblemáticos desse gênero.

O Aranha nasceu como resposta aos super-heróis bem resolvidos, milionários e poderosos que dominavam o cenário das histórias em quadrinhos até os anos de 1960. Lá pela metade do século XX, o mundo começou a mudar. Peter Parker era um adolescente inteligente, sensível e com pouco talento para lidar com o mundo: ele não tinha dinheiro, vivia com a tia idosa num bairro não luxuoso de Nova York. As garotas não ligavam para ele e, por tirar as melhores notas na escola, era motivo de chacota para os colegas descolados. Peter era um fracassado.

E quem é que lia gibis por essa época? Os jovens fracassados, claro! Ei! Esse sujeito não é um engomadinho que usa cueca por cima da calça! Este cara é um otário que nem queria virar herói!!

Quando a aranha radiativa faz seu trabalho, Peter tem que aprender a usar seus poderes, tem que imaginar como esconder sua identidade secreta – e vamos ser francos, não adianta botar uns óculos no rosto e achar que ninguém vai te reconhecer…. Peter tem que aprender sozinho a ser herói. Os jovens que liam os gibis também estavam aprendendo a lidar com o mundo, e, de repente, tinham alguém com os mesmos problemas estrelando uma história em quadrinhos!

No Aranhaverso, os roteiristas combinam diversas versões do Aranha numa história cheia de ação, humor e emoção, que faz jus ao herói. Miles Morales é um adolescente filho de um policial afrodescendente e de uma enfermeira latina. Grafitando com o tio em um local ermo de Nova York, ele é picado pela aranha radiativa e adquire poderes. Essa aranha provavelmente estava nos laboratórios do Sr. Fisk, o Rei do Crime que havia construído uma máquina terrível ali nos arredores e pretendia usá-la para abrir um buraco na realidade para fuçar nas outras dimensões e tentar trazer de volta a esposa e o filho, que morreram num acidente.

Usando a máquina, Fisk coloca em risco a humanidade, mas puxa para a nossa dimensão cinco versões diferentes do Homem Aranha. Todos heróis, até o porco-aranha que é hilário.

É maravilhosa a sequência que um assustado Miles, em pânico ao descobrir que seu organismo está todo estranho, encontra um gibi do Homem-Aranha e através da revista, toma conhecimento de que aqueles sintomas assustadores que está sentindo são poderes de super-herói se manifestando.

Também a apresentação de cada um dos aranhas é muito legal, fora a participação especial do Stan Lee e a homenagem ao artista no final. Inclusive tem mais uma cena após os créditos bem surpreendente para quem é fâ dos quadrinhos: uma versão futurista do Aranha, encontrando o Homem Aranha do desenho animado antigão, da década de 60!!

O melhor é a mensagem: qualquer um pode ser herói. Poderes sobrenaturais ajudam, mas o que conta mesmo é a vontade e a atitude.

Também pode marcar aí que nas férias andei de dragão. “Como Treinar Seu Dragão 3” é a pedida para levar a criançada. Tem coisa mais fofa que o Banguela? Pois é, agora tem: a namorada dele!!! Além de arranjar uma namorada, o Banguela vai ter que liderar os outros dragões a fim de protegerem seu lar.

Soluço também está às voltas com um novo vilão, Grimmel, matador de dragões. Ele precisa mostrar que amadureceu e que pode também tomar conta de seu povo como fazia seu pai.

Os teasers que foram lançados na internet anunciando o desenho são ótimos, principalmente aquele estrelado por Banguela e Kit Harington, o John Snow de Game of Thrones, que faz a voz do vilão.

Mais uma coisa que fiz nas férias: assisti ao final da trilogia que começou com “Corpo Fechado”, de M. Night Shyamalan, em 2001. Um dos meus filmes favoritos, trazia Bruce Willis como um super-herói comovente, que encontrava um mentor, vivido por Samuel L. Jackson, que podia ajuda-lo a compreender e utilizar seus poderes para o bom, combatendo um assassino terrível. Seu mentor era um homem muito inteligente mas preso a uma cadeira de rodas devido a uma doença que enfraquecia seus ossos a ponto de torna-los tão frágeis quanto o vidro.

Porém, numa daquelas viradas incríveis do Shyamalan, descobríamos que o personagem de Willis não sabia, de verdade, quem era o verdadeiro vilão da história.

Depois veio o filme “Fragmentado”, com James McAvoy vivendo Kevin, a Fera, um psicopata que pode mudar de personalidade alterando pela vontade a química de seu corpo. Ele tem mais de 20 personalidades distintas convivendo em sua mente doentia. Kevin sequestra adolescentes e esses jovens têm que encontrar um modo de escapar do monstro.

Em “Vidro”, Dr. Vidro, Samuel L. Jackson, o “Corpo Fechado” vivido por Bruce Willis, e Kevin, a Fera, de James McAvoy, estão internados num hospital, sob tratamento, para serem controlados e pesquisados. Mas o Dr. Vidro se une ao Fera para escaparem do lugar e saírem por aí fazendo maldades. Cabe a Bruce Willis salvar o mundo.

A trilogia fala de força interior, de como as pessoas lidam com as tragédias em suas vidas: escolhendo se transformarem em vilões ou mocinhos. Vale pelo clima de suspense e ação e pelo elenco fantástico.

É isso, crianças, foram férias sacudidas. Agora é hora de arrumar as malas para a volta às aulas, e entrar com o pé direito em mais um ano! Sem esquecer que neste ano teremos um monte de filmes ótimos chegando por aí  além dos esperados Endgame da Marvel e o episódio IX de Star Wars!!!

Texto Ana Lúcia Polessi – Colunista de Cinema

Agradecimentos ao Artista Plástico de Itatiba Cleverton Gomes por ceder a ilustração desta coluna.