Crítica de Cinema: Deadpool e Han Solo

Dois anti-heróis da pesada voltaram às telas nos últimos dias e valem o ingresso. Em tempos de crise como estes, cinema não é só diversão: é terapia. Fui ver Deadpool 2 e adorei. Eu já havia gostado de uma campanha de marketing que rolou lá em São Paulo, em que uma Kombi rodava as ruas paulistanas incentivando o povo a ir assistir o filme logo para não ter que aturar os spoilers e ficar com cara de “pamonha, pamonha, pamonha”!

Deadpool continua politicamente incorreto, o que é uma benção. Como bom bobo da corte ele brinca com tudo e com todos (principalmente com o Wolverine, com a DC e com o Ryan Reynolds, o ator que interpreta o personagem). O humor feroz e a ironia continuam no segundo filme, que tem até Celine Dion na trilha sonora! Aliás, vejam o clipe da música “Ashes”, com a participação hilária do próprio Deadpool !

A violência é tão escrachada que acaba virando o tipo de humor catártico de “Os Três Patetas”. Deadpool não cansa de zoar até a própria Marvel e os X-Men. A X-Force que ele reúne é uma paródia dos heróis mutantes. Uma das sequencias mais engraçadas do filme é quando ele está recrutando pessoas com (ou sem) poderes para integrar o seu grupo. Terry Crews faz parte da equipe…então, só se pode esperar mais gargalhadas.

A direção é de David Leitch  e as cenas de ação são bem feitas, o romance de Wade Wilson (a identidade não tão secreta do Deadpool) com sua amada Vanessa (a brasileira Morena Baccarin)  não deixou essa continuação piegas e o filme segue a tradição Marvel, com cenas após os créditos que são um show à parte. “Deadpool 2” tem ainda Josh Brolin – que também faz o Thanos em “Avengers-Guerra Infinita”, como o personagem Cable, que vai dar um bocado de trabalho ao Deadpool.

Após um confronto mal sucedido com criminosos, que provoca tremenda mudança na vida de Deadpool, o mutante vai parar numa prisão especial e faz contato com Russel (Julian Dennison), um menino com poderes impressionantes e que é perseguido pelo tal Cable. Deadpool vai então refletir sobre amizade, família e a importância dos valores tradicionais….só que não.

Daí temos o novo filme da Saga Star Wars: Han Solo-Uma História de Star Wars.. Por que, raios, a Disney escolheu lançar o filme do Han Solo e não o filme do Kenobi, que todo mundo está querendo, ou um filme do Luke, que explique por que o herói virou o velho pirado da ilha?

A resposta talvez seja a de que a Disney resolveu apostar num dos grandes ícones da Saga, um personagem tão popular quanto Vader. Han Solo não é exatamente um herói. Ele entra no caminho de Luke Skywalker quase que por acaso, e de má vontade ajuda a libertar a Princesa Leia. Acaba se apaixonando pela jovem e meio que vai enrolando e ajudando os rebeldes para permanecer perto dela. Finalmente se envolve com a luta contra o Império e quando acaba o “Retorno de Jedi”, em 1983 (!!!) temos a impressão que ele vai se ajeitar na vida ao lado da Princesa….

Mas daí, eu vivo até 2015 para descobrir que Han e Leia tiveram um filho psicopata – charmoso, mas pirado – e pior! Que Han Solo deu no pé quando o filho problema mostrou a que veio. Mas Leia Organa é Leia Organa e além de enfrentar sozinha as novas ameaças na galáxia e participar da Resistência, virou General.

Enquanto isso, Han Solo voltou a ser contrabandista, vivendo de rolo na galáxia….Agora vendo o filme sobre ele, dá para entender um pouco mais seu estilo de vida e as influências que determinaram seu destino. Han é um dos personagens mais queridos, até mais do que o Luke, porque ele é o que é. Ele não é politicamente correto, apesar da tentativa do Lucas, ter tentado fazer isso nas reedições da Saga, com a polêmica e mal feita cena do Greedo atirando antes do Solo na sequencia da Cantina de Tatooine em “Uma Nova Esperança”.

O Solo é um personagem humano, ele é trambiqueiro, não se encaixa nem no lado dos mocinhos e nem dos vilões. É só uma pessoa tentando sobreviver num Universo complicado.

Olha, eu estava com medo desse filme do Han Solo. Eu sou fã da Saga, então, cada filme traz uma informação nova sobre os personagens – que você pode gostar ou não. Às vezes não dá para conviver com o tipo de informação que se recebe. Eu amava “Arquivo X”, seriado clássico dos anos de 1990…. Na quinta temporada o criador da série resolveu esculhambar com toda a mitologia que havia criado e a bagunça foi tão grande que atualmente eu não consigo nem olhar para aqueles que eram meus episódios favoritos…

Eu adoro Star Wars e, embora não concorde com algumas das novidades dos novos episódios, nada ainda provocou um choque tão grande a ponto de eu não querer mais ver a série na vida. Então eu comecei a ler alguns comentários sobre troca de atores, troca de diretores, troca de enredo…aparentemente tudo estava dando errado na produção de Han Solo. Finalmente chamaram Ron Howard (meu herói) para a direção e parece que tudo fluiu.

Os comentários de quem ainda nem havia visto mas já estava odiando o filme encheram a internet e eu fui ao cinema com piores expectativas. Pois é, mas daí eu resolvi assistir para então emitir uma opinião e quer saber? Eu gostei.

Para assistir Han Solo é preciso colocar na cabeça que não se trata de um filme sobre o Han Solo que conhecemos, o Han Solo oficial, vivido pelo Harrison Ford. É um filme sobre o tempo em que Han não era nem Solo!!!

O roteiro é bom e tem grandes sacadas como o próprio “batismo” do Solo – irônico! E a explicação sobre o por que da Millenium Falcon ser tão temperamental. O filme também traz dois personagens novos bem interessantes: o mercenário Tobias Beckett (Woody Harrelson), que bem ou mal vai se tornar referência para nosso Han; e Qi’Ra (Emilia Clarke), amor de infância de Han Solo, que ele reencontra servindo a um grupo criminoso. Como o destino de Qi’Ra é incerto, pode ser que o filme tenha sido lançado agora porque talvez a personagem ainda vá fazer parte do futuro da franquia. Quem sabe? Lando Carlissian ainda não deu as caras nos novos episódios….será que ele volta?

Mas apesar das novidades, as melhores sequencias são aquelas que oferecem informações interessantes sobre a mitologia: como Han conheceu Chewbacca. Ficou bem bonitinha e lembra a sequencia de “Retorno de Jedi” em que Han, recém saído da hibernação, é jogado na masmorra do Jabba para esperar sua sentença de morte e reencontra Chewbacca.

A melhor sequencia é quando entramos na Falcon pela primeira vez… minha mãe do Céu como aquilo era limpo! Paredes ofuscantes, branquinhas, sem uma manchinha, coisa linda de viver! Dá pra imaginar o que Han Solo andou transportando e aprontando durante 20 anos para deixar aquela nava tão encardida e acabada! Amei!

E Lando Carlissian (Donald Glover) está muito bem! Trambiqueiro classudo, vaidoso e sagaz. Eu também teria treta com o Han se a Falcon fosse minha.

Outras cenas legais: descobrimos que a marcha imperial é realmente o hino imperial… tá lá na propaganda de recrutamento… também descobrimos que nada (nem ninguém) morre totalmente no Universo Star Wars, como diria Luke Skywalker….quem comanda a Aurora Escarlate, por exemplo…

Por último, Alden Ehrenreich como Han Solo. O menino não é o Harrison Ford. E isso não é um problema. Alden faz o seu Han Solo com competência, tentando se aproximar do gestual do Han Solo dos filmes dos episódios 4, 5 e 6 e não decepciona. Certamente Alden não tem o carisma do Ford, mas ele está bem no filme. Até porque ele está interpretando alguém cuja lenda só se firmaria tempos depois naquele universo.

E ele provou dois fatos muito importantes: Han Solo fez o percurso de Kessel em menos de 12 parsecs… e Han Solo foi o primeiro a atirar.

Texto: Ana Lúcia Polessi

Arte: Cleverton Gomes

Arte: Cleverton Gomes