Memória Itatibense: O Trem

No final do Século XIX, o café alavancava a economia de Itatiba. Na região, o município era superado apenas por Campinas. Isso fez com que os cafeicultores itatibenses passassem a sonhar com uma ferrovia para escoar suas enormes produções, o que na época ainda acontecia em lombos de burros.

O presidente da Companhia Paulista de Estradas de Ferro, entretanto, não via com bons olhos o pedido dos fazendeiros para que estendesse os trilhos até Itatiba, alegando não ter como arcar com o custo tão alto que isso implicaria. Porém, em 1880, os fazendeiros voltaram a insistir e conseguiram que o Governo da Província de São Paulo obrigasse a Companhia Paulista a construir um ramal que servisse Itatiba.

Foram muitas negociações até que um acordo fosse fechado com a Companhia Paulista, em 5 de abril de 1887. A partir de então, 34 acionistas começaram a tornar realidade a “Companhia Carris Ferril Itatibense”, depois denominada “Companhia Estrada de Ferro Itatibense”, inaugurada oficialmente em 10 de agosto de 1899.

A Ferrovia Itatibense tinha 21 quilômetros de linhas, com 5 estações próprias: Itapema, Paracatu, Tapera Grande, Luiz Gonzaga e Abadia, que ligavam a Estação Central de Itatiba à Estação de Louveira, onde entroncava com a Companhia Paulista, de lá seguindo o trem para Jundiaí, São Paulo e, finalmente, o porto de Santos.

A região da Estação Central do trem em Itatiba (na atual Avenida Marechal Deodoro, entre as também atuais ruas Francisco Glicério e Quintino Bocaiúva) passou a ser um ponto de encontro da juventude no início do Século XX. Em todas as comemorações as locomotivas apitavam e os sinos da igreja matriz repicavam. Até festas escolares do Grupo Escolar Júlio César ocorriam com desfiles na Estação Central.

Havia três locomotivas pertencentes à Companhia e uma particular., cada qual transportando 45 passageiros. A primeira classe era ricamente decorada com cortinas e bancos de vime. A segunda classe era mais simples e barata. Havia ainda outros 40 vagões de carga, além de um vagão fúnebre.
Junto com a crise das fazendas de café, a partir dos anos 1930, veio também a crise na Companhia Estrada de Ferro Itatibense. A situação foi sendo remediada até que, no início dos anos 1950, seus acionistas decidiram passar o controle da empresa ao Governo do Estado. Porém, o governador Lucas Nogueira Garcêz tinha outros planos na área de transporte: asfaltar as estradas que davam acesso a Itatiba. Uma última tentativa foi recorrer ao presidente da República, Getúlio Vargas, mas isso também de nada adiantou.
Assim, a Companhia Itatibense encerrou suas atividades em 30 de junho de 1952, a contragosto da população, que gostava do trem.

Todas as cinco estações de trem em alvenaria que serviam Itatiba, assim como a Estação Central, foram completamente destruídas. A ligação até Louveira, com o tempo, se transformou numa rodovia. Os trilhos foram arrancados e vendidos como ferro velho.

Quanto às locomotivas, comenta-se apenas que uma foi adquirida por alguém e que esteja em sua fazenda como peça decorativa.

Um triste fim teve a Estrada de Ferro Itatibense, da qual ficam boas lembranças aos moradores mais antigos da cidade.

*Artigo gentilmente cedido pelo Professor Gelvis Bassi *

Créditos: “Texto escrito com base em dados do livro Itatiba na História, de Lucimara Rasmussen e artigos do historiador Luis Soares de Camargo, no Jornal de Itatiba, disponibilizado pelo Museu Municipal Padre Lima. Imagens de época da internet e Foto Parodi”. (Professor Gelvis Bassi)