Memória Itatibense: As Ruas Centrais

Quando visto do alto, o quadrilátero central de Itatiba se parece muito com um tabuleiro de xadrez, com suas ruas geometricamente traçadas.
Em 1823, a área urbana começava a ser delineada e as primeiras ruas teriam como centro irradiador uma pequena área de terra batida onde estava sendo construída a atual Igreja do Rosário, na época dedicada a Nossa Senhora do Belém. À sua frente, foi formado o primeiro logradouro de Itatiba, que seria chamado de Largo do Rosário. E à frente deste “largo” iniciava-se um arruamento, que seria depois conhecido como Rua do Rosário (atual Rua Dr Jorge Tibiriçá).
Mas, foi mesmo com a construção da nova Igreja de Nossa Senhora do Belém (hoje, Basílica), em 1833, que as ruas centrais foram planejadas, tomando como referência a sua porta da frente.
Se hoje (e a partir da proclamação da República, em 1889), essas ruas homenageiam republicanos ilustres “que prestaram relevantes e patrióticos serviços na luta pela proclamação da República”, quando foram abertas receberam nomes inusitados:
• Cubatão: atual Avenida Prudente de Moraes (Prudente José de Moraes Barros, advogado, terceiro presidente do Brasil, paulista de Mairinque);
• Ladeira da Esperança: atual Rua Florêncio Pupo (Florêncio Pupo, itatibense, grande cafeicultor e vereador da Câmara Municipal, um dos solicitantes da implantação de uma estrada de ferro na cidade);
• Ladeira da Matriz: atual Rua Tobias Franco (Tobias Franco de Oliveira Cardoso, itatibense, divulgador do movimento republicano na cidade. Fundou em 1875 uma sociedade para a construção do Theatro São Joaquim).
Obs: a antiga Ladeira da Matriz ia de trás da Matriz até a Rua Formosa (Campos Sales); já do ponto atrás da Matriz até a Rua da Ponte (Comendador Franco) a via se chamou Ladeira do Sacramento e Ladeira da Boa Vista;
• Ladeira do Pompeu: atual Travessa Capitão Mello (Alexandre Luiz de Mello, capitão do Exército, combatente da Guerra do Paraguai, residente em Itatiba, nesta via pública);
• Pito Aceso: atual Avenida 29 de Abril (em alusão à data em que os escravos foram libertados em Itatiba, duas semanas antes da assinatura da Lei Áurea, pela Princesa Isabel);
• Rua Aurora: atual Rua Rangel Pestana (Francisco Rangel Pestana, fluminense de Iguaçu, advogado, professor de História no Colégio Culto à Ciência de Campinas. Dirigiu vários jornais e foi um dos fundadores do jornal A Província de São Paulo, hoje, O Estado de São Paulo. Na política foi por diversas vezes deputado provincial, elegendo-se ainda deputado federal e senador pelo Rio de Janeiro);
• Rua da Palha (depois, Rua Alegre): atual Rua Coronel Camilo Pires (Camilo José Pires, itatibense, poderoso cafeicultor proprietário da Fazenda Paraíso, político atuante, juiz de paz e combatente da Guerra do Paraguai, onde ganhou a patente de coronel);
• Rua da Ponte (depois, Rua Itatiba): atual Rua Comendador Franco (Joaquim da Silveira Franco, itatibense, produtor de uvas e vinhos);
• Rua de Santa Cruz: atual Rua Dr Aguiar Pupo (João de Aguiar Pupo, itatibense, médico dermatologista, filho do prefeito Herculano Pupo Nogueira, professor e diretor da Faculdade de Medicina de São Paulo);
• Rua Direita: atual Rua Francisco Glicério (Francisco Glicério Cerqueira Leite, campineiro, advogado e membro da Convenção Republicana de Itu. Foi vereador em Campinas e auxiliou o Marechal Deodoro da Fonseca a organizar as pastas do primeiro governo republicano do Brasil, sendo ainda senador e ministro supremo da Política Nacional e da Agricultura. Ajudou muito Itatiba, atendendo pedidos de seu irmão, o coronel Júlio César);
• Rua do Bosque: atual Rua Antônio Ferraz Costa (Antônio Ferraz Costa, português de nascimento, cafeicultor em Itatiba, elaborou o projeto de formação da Praça da Bandeira);
• Rua do Chá: atual Rua Rui Barbosa (Rui Barbosa de Oliveira, baiano de Salvador, formado na Faculdade de Direito de São Paulo. Iniciou carreira na imprensa defendendo a causa abolicionista no Rio de Janeiro. Foi deputado provincial e depois federal. Proclamada a República, foi ministro da Fazenda do governo provisório. Foi senador pela Bahia e posicionou-se extremamente contrário ao golpe que levou Floriano Peixoto ao poder e, por isso, exilou-se em Buenos Aires, Lisboa e Londres, voltando posteriormente ao Senado);
• Rua do Comércio: atual Rua Benjamin Constant (Benjamin Constant Botelho de Magalhães, general do Exército Brasileiro, combatente da Guerra do Paraguai, um dos principais articuladores do levante republicano e autor da inscrição “Ordem e Progresso”, da Bandeira Nacional);
• Rua do Mercado: atual Rua Soares Muniz (Antônio Soares Muniz, itatibense, vereador da primeira composição da Câmara Municipal de Itatiba, proprietário de uma “casa de modas” importante na cidade);
• Rua do Rosário: atual Rua Dr Jorge Tibiriçá (Jorge de Almeida Prado Tibiriçá Piratininga, nasceu em Paris, estudou agronomia na Suíça e depois na Faculdade de Direito de São Paulo. Foi político republicano e abolicionista, presidente da Província de São Paulo);
• Rua do Theatro: atual Rua Quintino Bocaiúva (Quintino Antônio Ferreira de Souza, carioca, dedicou-se ao jornalismo, redigindo o famoso Manifesto do Partido Republicano, do qual foi um dos fundadores. Em repúdio à Monarquia, trocou seu próprio sobrenome, adotando o Bocaiúva, de origem indígena. Foi eleito senador da República em 1892 e 1894);
• Rua Formosa: atual Rua Campos Sales (Manuel Ferraz de Campos Sales, advogado, quarto presidente do Brasil, paulista de Campinas);
• Travessa Antônio Egydio: atual Rua José Gabriel (José Gabriel, itatibense, vereador suplente da primeira composição da Câmara Municipal da cidade);
• Travessa Juca da Silva: atual Rua Monsenhor Köhly (Juvenal Augusto de Toledo Köhly, vigário em Atibaia e Itatiba, promoveu reformas na Igreja Matriz de Nossa Senhora do Belém e na Igreja do Rosário);
• Travessa Pellizer: atual Rua Professor Brito (Manuel Euclides de Brito, farmacêutico, fluminense de Valença, lecionou para três gerações, mesmo sem diploma universitário, no Grupo Escolar Coronel Júlio César, devido à falta de professores no início do século XX).

*Artigo gentilmente cedido pelo Professor Gelvis Bassi*

Créditos: Texto elaborado com informações obtidas junto ao Museu Municipal Padre Lima e contidas nos livros “Conheça Sua Cidade”, de Diloca Ferraz Sangiorgi, e “Itatiba na História”, de Lucimara Rasmussen. Imagens de minha autoria. (Professor Gelvis Bassi)