13 de Julho – Dia Mundial do Rock 

Feliz Aniversário Baby!

“Para falar de rock eu tenho que abrir a arca perdida das minhas memórias e tirar de lá uma das minhas visões preferidas. Eu me lembro de uma tarde de sol de um sábado dos anos setenta que cheirava a sabonete lux e shampoo aristolino.

Lá estou eu, pequenininha, brincando na área que ficava bem diante da porta da frente da minha casa. Tinha piso vermelho e eu sentava lá e cuidava da minha vida, com meus brinquedos.

Nesse dia, sem motivo que eu possa recordar, entrei na sala porque o programa que estava passando na tevê tinha música: era Paul Mc Cartney, novinho, simpático, tocando Live and let die num piano enorme. Foi amor à primeira vista e aos primeiros acordes. Apaixonei-me pelo Paulo, pelos Beatles, pelo rock.

Paixão que já começou com tragédia, porque nasci bem no ano em que os Beatles desfizeram o grupo. Mas eu sempre cheguei tarde na vida dos meus rockstars favoritos: fui me tornar fã do Elvis quando ele morreu. Ninguém chorou mais do que eu pela sua morte – porque eu nem cheguei a viver a fase Elvis quando ele estava por aqui. O peso de ter perdido algo que não se teve a chance de curtir por falta de conhecimento é sempre maior.

Eu não conhecia o Elvis, mas já curtia Alice Cooper, doidão que andava com uma cobra pendurada no pescoço. Eu achava que ele era um feiticeiro e que, na verdade, tinha uma identidade secreta: só ele podia descer no inferno para lutar contra os monstros .e voltava pra fazer show de rock.

Também descobri tardiamente o David Bowie.

Meus irmãos curtiam a Jovem Guarda, minha irmã Ana Maria comprava todas as revistas Contigo e Ilusão. E eu adorava folhear as revistas, recortar foto de artistas,nasci pra ser tiete.

Meu irmão Aloisio tinha um LP do Aphrodite´s Child (uma banda grega!) – que me assombrava na infância. Alguém se lembra de Rain & Tears? Nossa, eu morria de vontade de chorar com aquela canção, como se já tivesse ouvido isso em outra vida durante um momento muito comovente de alguma encarnação perdida.

Pink Floyd também me dava tristeza. As músicas dessas bandas eu acho que não são normais, devem ter sida compostas por alienígenas e abrem portais…

O estereótipo do roqueiro vestido de couro, numa moto, andando por aí, cabelos ao vento com Born to be wild ao fundo continua até hoje, mas rock não é só isso.

Rock é um estilo de vida que tem mais a ver com o que se é e não com o que se veste ou com as tatuagens que se faz pelo corpo.

O rock, esse velhinho sacana quer destruir as coisas, sim ele continua com isso. Sempre foi um rebelde, esse tal de rock & Roll. O rock é um agente do Karma, que deseja destruir o que é ultrapassado, o que empata a vida.

O rock vai durar enquanto houver o desejo de transformação no coração dos jovens de todas as idades. O rock vai durar enquanto houver pensamentos reumáticos, preconceitos artríticos e atitudes endurecidas para serem modificados.

No ano passado eu estava fazendo compras num supermercado e na rádio que eles sintonizam começou a tocar Love of my life, com o Queen. Estava cercada por uma população formada por senhoras e senhores que não pareciam ser fãs de rock, mas de repente todos estavam cantando junto com o rádio, sem se darem conta disso. Foi um momento mágico.

O rock fala das nossas emoções, dos sentimentos. A batida do rock é a batida do coração. A batida do rock fez as grandes rachaduras do muro de Berlim e ele veio abaixo principalmente por causa do barulho dos jovens. E no dia em que ele caiu teve show de rock na Alemanha pra comemorar…foi com o U2, eu creio. É isso que o rock faz: derruba muros.

Talvez, o rock, mais que qualquer outro gênero musical, tenha essa vitalidade toda porque nos lembra o tempo todo o quanto essa vida é curta. E nada como um lembrete desses para querermos viver cada dia como se fosse o último. Feito James Dean.

Revi Help! e A Hard Day’s Night esses dias e morri de rir com as aventuras dos Beatles. Rock é tudo isso: alegria, desespero pela vida, aventura, emoções. Rock é tudo. Feliz dia do Rock Baby !”

Texto: Ana Lucia Polessi (Colunista de Cinema)

Arte: Cleverton Gomes

(*Arquivo Tem Itatiba – 13/07/2017)